quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

O TEMPO DE CADA UM (Por Pedro Machado)


A tolerância é uma virtude ainda rara na atualidade. Ela permite viver em harmonia junto a quem pensa e age de forma diferente. Não se trata apenas de suportar um modo distinto de ver e entender a vida. 

O exercício da tolerância engloba também o esforço em perceber o que possa haver de admirável na conduta alheia, especialmente quando difere da nossa. Mesmo perante equívocos, não criticar gratuitamente, pelo simples gosto de denegrir. 

Por certo, a título de ser tolerante não vale adotar conduta omissa e conivente. Na defesa de um bem maior, de um inocente, do patrimônio público, não é lícito deixar de agir. Mas ainda aí é preciso ter não apenas energia, mas também doçura, para não se converter em um carrasco. 

Muitas pessoas se angustiam porque seus amores não lhes compartilham os ideais. Incontáveis pais estimariam que seus filhos tivessem padrão de conduta mais digno. Entre esposos, costuma haver descompasso no entendimento de questões capitais da existência. Essa dificuldade em compreender o ritmo alheio se manifesta em incontáveis setores. 

Às vezes, notícias sobre determinados crimes despertam o desejo generalizado de exterminar os seus responsáveis. Notícias de desmandos na política produzem grande desencanto. Tem-se a sensação de que a Humanidade está perdida e de que nada mais há para fazer. Entretanto, embora de forma lenta, tudo se aprimora. 

Assim, o desencanto e o esmorecimento traduzem incompreensão dos mecanismos superiores da vida. Certamente não é possível e nem desejável alegrar-se perante indignidades de qualquer ordem. Mas é necessário compreender que cada criatura tem o seu ritmo e o seu momento de transformação. 

Perante os equivocados, é necessário exemplificar o bem, mas sem violências e arrogância. Não vale ser conivente e omisso, mas também não cabe a imposição das próprias idéias. 

Se criaturas difíceis estão presentes em sua vida, há uma razão para isso. Na grande oficina da vida, você foi considerado digno do bom combate. Os levianos e rudes são os mais necessitados de amor. Afinal, como afirmou o Divino Amigo, os sãos não necessitam de remédio nem de médico. 

Se os valores cristãos iluminam o seu íntimo, rejubile-se. Exemplifique-os mediante uma vida laboriosa e digna. Mas não os imponha a ninguém. Afinal, Deus a todos assegura o livre arbítrio e pacientemente espera o lento desabrochar das virtudes de todos. Pense nisso. Tente aplicar em sua via, e vamos que vamos, ETA nóis e que Deus seja louvado.

domingo, 24 de fevereiro de 2019

INTELIGÊNCIA SEM AÇÃO (Por Pedro Machado)



De que vale a inteligência, sem ação. Tem pessoas que se acham muito inteligentes, uma coisa é certa, os conhecimentos ouvem-se, mas para agir a capacidade de audição é praticamente desprezível. 

Porque agir é estar próximo das coisas, e ouvir é estar afastado das coisas. Alguém que apenas ouve será considerado um intruso no mundo, a Natureza não se sentirá ameaçada. Quem ouve poderá acumular conhecimentos, mas essa cumulação não lutará com a Natureza. 

Esta por sua vez resiste bem à inteligência, ao raciocínio e à memória do Homem. Todas estas qualidades intelectuais são assuntos que dizem respeito exclusivamente ao mundo da cidade, e o que ameaça a Natureza são as ações. 

Os momentos em que os humanos abandonam a audição, e mesmo a linguagem do discurso, e passam a querer falar com o tato, o único que pode alterar as coisas. Se os seres humanos, mantendo a sua inteligência incorrupta, fossem seres imóveis, incapazes de qualquer movimento, seriam ainda hoje menos poderosos do que um único metro quadrado de terra espontâneo. 

Poderiam possuir um grau de aperfeiçoamento no pensamento abstrato, matemático e lógico, mas não deixariam de ser uma espécie mesquinha, secundária ao lado das outras, as possuidoras de movimento. 

Qualquer cão mesquinho mijaria nas pernas de um homem inteligente, mas imóvel. Pense nisso, e vamos que vamos, ETA nóis.

LEDO ENGANO (Por Pedro Machado)

Os que crêem que sabem mais que os outros, ou se enganam, ou se persuadem bem: se se enganam, o mesmo engano lhes serve de escárnio; se se persuadem bem, a vaidade da ciência os faz tão ferozes, e severos, que ficam sendo insuportáveis. 

A ciência humana comumente se reveste de um ar intratável; imagem tosca, desagradável, e impolida. A especulação traz consigo um semblante distraído, e desprezador; quanto melhor é uma ignorância educada. 

Toda a ciência se corrompe no homem; porque este é como um vaso de iniquidade, que tudo o que passa por ele, fica inficionado: as coisas trabalham por se acomodarem ao lugar donde estão, e por tomarem dele as propriedades, só com a diferença, de que as cousas boas fazem-se más, porém estas não se fazem boas. 

Nas sociedades, o mal é mais comunicável; a perdição é mais natural; o que é bom, mais depressa tende a perder-se, que a melhorar-se; os frutos da terra quando chegam ao estado de maturidade, nem persistem nele, nem retrocedem para o estado de verdura; antes caminham até que totalmente se apodreçam; por isso o último grau de perfeição, costuma ser o primeiro na ordem da corrupção. Pense nisso, e no mais vamos que vamos, ETA nóis.

TRANSPARÊNCIA (Por Pedro Machado)


Nem sempre nos fazemos entender. Pensamos que somos transparentes, que os nossos olhos são janelas fáceis de atravessar, esquecidos que o outro nos olha com as lentes do seu próprio mundo, que recebe os nossos atos pela medida dos seus. 

Assim como recebemos os dele pela medida dos nossos. Não há certo e errado; há o que cada um julga como tal, de acordo com seu fórum íntimo, sua necessidade, sua luta para viver (na maioria das vezes em rio caudaloso sem saber nadar).

O que pensamos dizer nem sempre é o que se escuta; o que ouvimos nem sempre é o que foi dito. Assim, nessa diversidade de opiniões, sentimentos e egos, tantas vezes soterramos possíveis entendimentos, amizades preciosas, por conta de orgulhos feridos (que às vezes nem foram feridos, mas entendemos assim).

Enquanto vivermos na defensiva, não passaremos de meros soldados de guerra; tudo o que nos chegar parecerá ataque. Ou aprendemos a depor as armas ao ouvir e ao falar, ou viveremos em eterno combate, como se as relações fossem guerrilhas e não uma troca de afetos, onde se cresce na compreensão das diferenças e no calor dos abraços. Pensemos nisso, e no mais vamos que vamos, ETA nóis.

VIDRAÇA SUJA (Por Pedro Machado)



Uma coisa é curta e certa, se você estiver vendo apenas coisas negativas nas pessoas ao seu redor, talvez seja interessante dar uma olhada na sua vidraça. Tantas vezes o que pensamos ser uma mancha escura no vizinho, não passa de um ponto de vista equivocado ou de uma visão distorcida. 

A nossa visão de mundo, portanto, depende da janela através da qual observamos os fatos. Ela pode estar manchada pelo lodo da inveja, pela poeira da incompreensão, pelos respingos do orgulho, ou algumas nódoas de mágoa. 

Seria interessante que, antes de criticar, olhássemos primeiro a nossa situação: se estamos fazendo alguma coisa para contribuir ou se apenas nos limitamos a falar mal de coisas e pessoas. 

E podemos começar olhando para os nossos próprios defeitos e limitações para poder entender e compreender as deficiências do semelhante. Jesus chamou-nos a atenção dizendo que enxergamos facilmente o cisco no olho do próximo, mas não vemos a trave que tem no nosso. 

Por essa razão é importante que, antes de lançar qualquer comentário infeliz sobre os outros, olhemos primeiro se a nossa janela está bem limpa e transparente. Pense nisso, e no mais vamos que vamos, ETA nóis.