quinta-feira, 22 de novembro de 2018

A FAMÍLIA PRIMEIRO

O administrador Stephen Kanitz, colunista da revista Veja, escreveu em edição de fevereiro de 2002 mais ou menos o seguinte: 

Há vinte anos presenciei uma cena que modificou radicalmente minha vida. Foi num almoço com um empresário respeitado e bem mais velho que eu. 

O encontro foi na própria empresa. Ele não tinha tempo para almoçar com a família em casa, nem com os amigos num restaurante. Os amigos tinham de ir até ele. 

Seus olhos estavam estranhos. Achei até que vi uma lágrima no olho esquerdo. "Bobagem minha", pensei. Homens não choram, especialmente na frente dos outros. 

Mas, durante a sobremesa, ele começou a chorar copiosamente. Fiquei imaginando o que eu poderia ter dito de errado. Supus que ele tivesse se lembrado dos impostos pagos no dia. 

"Minha filha vai se casar amanhã", disse sem jeito, "e só agora a ficha caiu. Percebo que mal a conheci. 

Conheço tudo sobre meu negócio, mal conheço minha própria filha. Dediquei todo o tempo à minha empresa e me esqueci de me dedicar à família." 

Voltei para casa arrasado. Por meses, me lembrava dessa cena e sonhava com ela. Prometi a mim mesmo e a minha esposa que nunca aceitaria seguir uma carreira assim. 

Colocar a família em primeiro lugar não é uma proposição tão aceita por aí. Normalmente, a grande discussão é como conciliar família e trabalho. Será que dá? 

O cinema americano vive mostrando o clichê do executivo atarefado que não consegue chegar a tempo para a peça de teatro da filha ou ao campeonato mirim de seu filho. 

Ele se atrasou justamente porque tentou conciliar trabalho e família. Só que surgiu um imprevisto de última hora, e a cena termina com o pai contando uma mentira ou dando uma desculpa esfarrapada. 

Se tivesse colocado a família em primeiro lugar, esse executivo teria chegado a tempo. Teria levado pessoalmente a criança ao evento. 

Teria dado a ela o suporte psicológico necessário nos momentos de angústia que antecedem um teatro ou um jogo. 

A questão é justamente essa. Se você, como eu e a grande maioria das pessoas, tem de conciliar família com amigos, trabalho, carreira ou política, é imprescindível determinar quem você coloca em primeiro lugar. 

Colocar a família em primeiro lugar tem um custo com o qual nem todos podem arcar. Implica menos dinheiro, fama e projeção social. 

Muitos de seus amigos poderão ficar ricos, mais famosos que você e um dia olhá-lo com desdém. Nessas horas, o consolo é lembrar um velho ditado que define bem por que priorizar a família vale a pena: 

"Nenhum sucesso na vida compensa um fracasso no lar." 

Qual o verdadeiro sucesso de ter um filho drogado por falta de atenção, carinho e tempo para ouvi-lo no dia-a-dia? 

De que adianta ser um executivo bem-sucedido e depois chorar durante a sobremesa porque não conheceu sequer a própria filha? 

O lar constitui o cadinho redentor das almas. Merece nosso investimento em recursos de afeto, compreensão e boa vontade, a fim de dilatar os laços da estima. 

Os que compõem o lar são os marcos vivos das primeiras grandes responsabilidades do ser humano. 

Assim, acima de todas as contingências de cada dia, compete-nos ser o cônjuge generoso e o melhor pai, o filho dedicado e o companheiro benevolente. 

Afinal, na família consangüínea, temos o teste permanente de nossas relações com toda a Humanidade. E Pensemos nisso, e no mais vamos que vamos ETA nóis.

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